Sobrevivemos ao Ex para Contar: Nossas Sagas de Violência Patrimonial

A (des)vantagem de termos começado um projeto sobre autonomia feminina enquanto uma de nós ainda não se libertou da tirania, é que nossa pauta às vezes é decidida pelas circunstâncias. Esta semana, por exemplo, tínhamos planejado apresentar nossa advogada, com direito a entrevista! Aí vem os contratempos do cotidiano: filho adoece, mãe cuida; criança não sara; mãe procura um médico e… Mãe descobre um problema sério…

Ao buscar assistência médica Ana descobriu que as crianças haviam sido excluídas do plano de saúde! 3 meses atrás o pai as retirou do plano de saúde de Ana para inclui-las como dependentes no dele. Não me perguntem como isso foi possível junto à companhia . Mas foi! Durante 13 anos, plano de saúde foi um dos vários instrumentos de controle dele contra Ana – Afinal, todos eram dependentes dele! Hoje, se Ana, Cadu ou Sofia adoecerem, resta perecer ou recorrer à saúde pública, que dá no mesmo!

No momento do choque, não tem bravura, nem resiliência que baste… Chorar copiosamente de angústia, revolta e desesperança é o que dá:  Quando finalmente vai acabar esse mando-e-desmando?!” , nos perguntamos em conversa emocionada no intercontinentes.

As violências patrimoniais vividas por nós

Comigo, Rosa, ele:

  • jamais conversava sobre finanças da família.
  • A única coisa que repetidamente dizia era “tô quebrado”. Mas pra hotéis restaurantes e e roupas caras não faltava dinheiro!
  • Para fazer as compras de supermercado toda semana era preciso quase implorar… O jeito era se virar nos 30 com as sobras na geladeira e armários.
  • Volta e meia o “falido” trocava de carro, sendo o novo, sempre 10 vezes mais caro do que o anterior.
  • Em viagens frequentes, encarnava o CEO de sucesso. Em casa, aluguel, condomínio e conta de energia atrasados. De novo, nós em casa em casa, é que tínhamos que lidar com as cobranças e consequências.
  • Uma vez, chegando do trabalho numa sexta feira, encontrei Sandra (nossa escudeira) no escuro e aflita com as crianças em casa. A companhia de energia tinha acabado de cortar seu fornecimento por falta de pagamento. Pra fugir de um final de semana vivendo como nas cavernas, sem luz, geladeira e no calor, arrumamos as malas e fomos pra casa da minha mãe.

Comigo, Ana, piorou!

  • Impedida de ter fonte de renda a loja que possuia foi vendida na Paraíba antes da mudança para Pernambuco. O valor da venda, temporariamente depositado na conta dele – antes de comprarmos um loja para ambos em pernambuco, nunca mais foi visto…
  • Cada gasto era controlado através do cartão de crédito da empresa, que nem seu nome tinha. Num belo dia ele de mal humor corta o cartão na tesoura.
  • Em 2016 a tranca pra fora de casa, com as crianças dentro. Motivo? estressado demais pra olhar pra mim.
  • Em 2017 destrói meu celular em um arremesso violento no chão.
  • Ao primeiro pedido de separação em 2017, instantânea ameaçada de perder tudo, a começar pelo meu plano de saúde do qual era dependente junto com Sofia. Chantagem efetuada com sucesso. Mesmo assim, pouco tempo depois, Ele faz a exclusão de ambas!
  • Nesses anos de penúria, o dinheiro a que tive acesso foi o que conseguiu faturar vendendo, no condomínio mesmo, produtos da empresa Dele. Eu os comprava como qualquer outro cliente externo para o qual ele fornecia.
  • O que sobrava líquido dessa transação só dava pra comprar roupas para as crianças. Pra mim, Calça jeans e camiseta viraram uniforme pra vida, de domingo a domingo.
  • No começo de 2023 quando ele foi obrigado a sair de casa, pela medida protetiva que consegui, não fosse a doação de parentes e pessoas amigas, teríamos passado fome. Ele pouco ou nada fornecia para nosso mantimento. Precisei reduzir nossos gastos a praticamente pão e água!
  • Desde 2018, voltei a ter plano de saúde, sendo eu a titular e nossos dois filhos, dependentes.
  • Como, por liminar judicial em 2022, ele foi obrigado a arcar com a mensalidade na pensão alimentícia, tratou rapidinho excluir as crianças do meu (não me perguntem como ele conseguiu isso junto à operadora, jsendo eu era a titular!) e incluiu as crianças mo plano dele.
  • Sem saber disso, negociei uma mensalidade menor com minha seguradora para nós três, mas não consegui pagar porque já a pensão seguinte foi desfalcada em R$ 2.500. A alegação dele? “Agora as crianças estão no Meu plano, não preciso pagar a você”. Sem recursos para manter o acordo, nem pagar um plano individual só comigo, o contrato acumulou débitos e foi cancelado. Depois de chorar copiosamente, aceitei que pelo menos as crianças estavam cobertas… Enquanto isso eu e Márcia recorreríamos ao poder judicial…
  • Quando finalmente foi proibido de desfalcar valores da pensão arbitrriamente, ele não pensou duas vezes: excluiu as crianças da operadora dele, de novo, sem aviso. Descobri isso ao tentar marcar consulta.
  • Resumo da ópera: por dívidas em aberto no meu próprio plano, não posso contratar novo plano de saúde pra mim. Cadu e Sofia não são admitidos a não ser como dependentes. O labirinto é esse…

One Comment

  • Eber Urzeda dos Santos

    Embora o texto possa causar revolta e repulsa, ele é extremamente importante para a conscientização. Ao expor a realidade dos abusos nos relacionamentos, o relato nos obriga a confrontar verdades incômodas que muitas vezes preferimos ignorar. Essa indignação é necessária, pois apenas através dela podemos despertar para a gravidade da situação e mobilizar esforços para mudanças significativas. Por isso, para mim, um homem que cresceu meio a violência doméstica, o blog desempenha um papel fundamental para que mulheres se sintam amparadas e encontrem a força necessária para buscar seus direitos.
    É crucial que toda a sociedade aprenda a reconhecer e lidar com esse tipo de abuso, apoiando as vítimas e desmistificando preconceitos. A mensagem central do texto é essencial: ao invés de questionar por que uma mulher ainda está em um relacionamento abusivo, devemos nos perguntar “Como posso ajudar?”. Este blog ensina que a empatia e a ação são as chaves para combater a violência doméstica e garantir que ninguém enfrente essa luta sozinha.
    Obrigado por compartilhar!
    Eber.

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